Textos
₢ Dalva Agne Lynch
Há muita controvérsia sobre as diversas “cores” do Poder - o "Poder escuro" do mal, e o "Poder branco" do bem. Agora inventaram até mesmo um "Poder vermelho", que deveria estar acima dos outros dois, supremo e universal.
Bom - estas divisões, porém, colocam o Poder em um plano religioso. Explico: o homem atual tende a dividir sistemas de acordo com os padrões cristãos ou muçulmanos, ou seja, o conceito de Poder estaria condicionado aos conceitos religiosos cristãos ou islâmicos do que vem a ser bem e mal, com sexo liderando a longa lista de tabus, seguido bem de perto pelos assim-chamados demônios.
Na Grécia antiga, entretanto, o culto de Afrodite incluía a adoração através do sexo, praticada nos templos por Sacerdotes e Sacerdotisas consagrados.
A Yoga, tão antiga quanto o Oriente, contém todo um segmento dedicado à prática do Tantrismo, ou seja, a Yoga de caráter sexual.
O próprio misticismo judaico é altamente sensual e sexual, com as práticas sexuais contidas na Santa Kabbalah.
Durante a época vitoriana, em uma Europa profundamente cristã, surgiram Movimentos e Ordens embebidos em conceitos tão antigos quanto a Yoga e a Kabbalah, bem como nas tradições egípcias, gregas e babilônicas. Por saberem o quanto o mundo estava despreparado para seu conhecimento, esses Movimentos e Ordens permaneceram secretos, com suas práticas e rituais de Poder cuidadosamente ocultas, isto se extendendo até os dias de hoje. Exemplos são a Maçonaria, as diversas Ordens Templárias, Rosacruz, Golden Dawn, Astrum Argentum e muitas outras.
Hoje em dia, contudo, o sexo é utilizado na mídia e na propaganda como algo corriqueiro, e os assim-chamados "demônios" saíram de seus nichos nos monastérios e mosteiros para habitar as páginas de livros e as telas do cinema.
Com isto, a divisão moral do Poder, em uma sociedade agora aparentemente não-religiosa, passou a se basear na maneira como este mesmo Poder interfere na vida das pessoas. Se ele força outras pessoas sem o consentimento das mesmas, seria considerado “Poder do mal”. Se representa a vontade de uma maioria, seria o "Poder do bem".
Ora, todos os nossos atos afetam outras pessoas sem o consentimento das mesmas. Quando uma pessoa se veste e se perfuma para impressionar outra, está afetando os sentimentos e reações desta outra pessoa sem seu consentimento. Quando a mídia emprega fotos ou textos sensuais, ela está afetando outros sem seu consentimento. O que é marketing, além da influência direta na vontade alheia? Os exemplos são infindáveis, porque vida é justamente relacionamento transpessoal, que requer uma troca tanto voluntária quanto involuntária de informações e influências.
Agora, há outro tipo de interrelação que é, na verdade, altamente perigosa – a que ultrapassa a pura sugestão mental, e passa à manipulação mental das pessoas. Temos bons exemplos de pessoas que manipularam as massas com seu carisma, sua persuasão e seus atos. Alguns são considerados heróis, outros vilões – mas a técnica utilizada foi exatamente a mesma.
Se eu afirmar que o apóstolo cristão Paulo de Tarso, assim como Adolph Hitler, Napoleão Bonaparte, Mahatma Ghandi, Martinho Lutero, Martin Luther King, Lênin, Fidel Castro, e muitos outros se utilizaram exatamente dos mesmos métodos de persuasão do povo, você, leitor, pensaria que estou louca. Bom - não estou. Sou louca de nascença. Mas isto não vem ao caso, e poderíamos inclusive colocar na lista acima diversas personalidades que estão se utilizando desses métodos, agora mesmo, no cenário religioso, social e político brasileiro.
Alguém diria: Ah, mas essas pessoas não forçam ninguém a segui-las! Não? Pense outra vez: o apóstolo Paulo e outros líderes religiosos, ao pregar, afirmavam (e ainda afirmam) categoricamente que quem não seguisse os preceitos por eles expostos ficaria condenado ao fogo do inferno, à perda de sua alma, à desgraça eterna.
Hitler foi direto à ação e jogou seus oponentes no fogo – não esperou a danação eterna. Outros políticos instituem sanções e penalidades aos que não se conformam à norma por eles estabelecida – vide a situação de Cuba, do Irã e demais Estados ultra-religiosos.
Todos eles se utilizaram da idéia maniqueísta do bem e do mal: sigam-me e vocês estarão do lado do bem, caso contrário, estarão do lado do mal. Se isto não é manipulação mental no seu grau mais refinado, não sei o que venha a ser. Isto é Poder influencial em sua máxima perfeição. Foram eles alguma espécie de Magos Negros, então? Se vamos considerar Poder do mal como sendo o que interfere com a vontade de outrem sem o seu consentimento – eu diria, enfaticamente: sim!
Na verdade, porém, o que separa o “Poder do mal” do “Poder do bem” – e não gosto nem um pouco desta diferenciação, mas, a título de entendimento é preciso fazê-la –, seria o quanto aqueles que seguram tal Poder nas mãos estariam envoltos, não com entidades “más” (demônios), não com práticas sexuais assim ou assado, mas sim o quanto estariam envoltos no seu próprio ego.
O homem mau pensa ser superior aos demais seres humanos, pensa ser mais inteligente, mais capaz, e, portanto, estar acima de qualquer julgamento ou crítica. Ou seja, seu Universo inteiro se tornou seu ínfimo microcosmo, e ele se perdeu no labirinto de si mesmo. Ele ficou no Abismo do Ser, na Noite Escura da Alma, no Vale da Sombra da Morte – na ilusão egóica do isolamento que ele mesmo criou, ao se colocar acima do resto do Universo, acima do Macrocosmo.
Mas não seria isto a descrição de qualquer ser humano que coloca a si mesmo acima dos demais? Por esta razão, torna-se ridículo falar em “Poder do mal” ou “Poder do bem”. Não é o Poder que deve estar em questão, mas sim o homem que o tem nas mãos - mesmo que este Poder seja apenas uma sala de aula, uma repartição pública, um lar com dois ou três filhos, ou um grupo de Internet - ou até mesmo um canil cheio de cãezinhos a serem amestrados.
Veja bem: cada um de nós é uma estrela com sua própria órbita, seu próprio curso, e não deveria entrar em colisão com o curso de outra estrela, ou interferir em seu livre arbítrio, não importa se você pode fazê-lo impunemente.
Mas já vimos que isto é algo virtualmente impossível. Não há ninguém perfeito e, mais cedo ou mais tarde, você vai terminar colidindo com a órbita alheia, ou alguém colidirá com a sua, por mais que tente evitá-lo. Devido a isto, grande parte da moral religiosa ocidental se dirige a práticas de convivência social, com ameaças de punições eternas - o que nos leva de volta a outro ponto crucial no conceito do Poder: o medo.
A utilização de práticas mentais de manipulação não é nem imaginação, nem tampouco loucura. A questão é como você vai utilizar essas práticas, ou, melhor dizendo, em quem. Outra vez, não se esqueça que todos nós, em graus variados, temos poder sobre outras pessoas: a professora em sua sala de aula; a mãe e o pai com os filhos; o gerente com os demais empregados, o owner de um grupo de internet. E acho que isto inclui quase que cada ser do planeta.
Ao mesmo tempo, todo homem em evolução está no processo de expandir seu universo sensorial e perceptivo, utilizando partes nunca imaginadas de seu cérebro, e isto amedronta muitas pessoas. O medo, entretanto, é seu pior inimigo, porque com ele vem a insegurança, a falta de amor próprio, a covardia – e, conseqüentemente, a falta de Poder. E é aí que a maioria das pessoas entra no emaranhado da religião e da política, compensando com conceitos emprestados a perda dos próprios, e defendendo, muitas vezes até à morte, princípios que mal entende.
A verdade é que a medida de seu Poder reside no quanto você sabe controlar a si mesmo, seus medos e suas ansiedades. Talvez ninguém esteja, na verdade, querendo usurpar sua posição. Talvez seja você que não está seguro dela. E você não poderá lutar contra forças externas até ter dominado as internas, não poderá jamais ter qualquer espécie de Poder verdadeiro, se não tiver primeiro poder sobre si mesmo. E, ao dominar-se, ao tomar nas mãos o poder sobre si mesmo, você terá dominado o Universo que o cerca.
E este é, afinal, o segredo inteiro de todas as Ordens e Fraternidades ocultas, de ontem e de hoje. Esta é a mágica do Poder.
ilustração: montagem da escritora Dra. Maria da Graça Ferraz
Dalva Agne Lynch
Enviado por Dalva Agne Lynch em 23/02/2010
Alterado em 06/12/2012
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