Dalva Agne Lynch
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SOFRIMENTO - O BURACO ESCURO DO SER
 
Dalva Agne Lynch
 
 
 
Não adianta nada dizer a alguém que está sofrendo: "não sofra!", ou tentar dar lição de moral.
 
Adianta pegar sua mão e dizer: "Eu entendo. Eu também sinto assim".
 
Amiga ou amigo, o pior do buraco é a solidão. Como disse Fernando Pessoa, no seu "Poema em Linha Reta":
 
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo,
Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu um enxovalho,
Nunca foi senão princípe - todos eles princípes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana,
Quem confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Quem contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó princípes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde há gente no mundo?
 
Quem está no buraco não quer saber de príncipes vitoriosos - quer encontrar uma alma irmã. Quer encontrar gente.
 
E daí, depois - muito depois -, se a pessoa se interessar em saber como foi que você saiu do buraco, então você pode contar onde encontrou a escada.
 
E que o primeiro degrau dessa escada é o mais duro de escalar.
 
E que essa escada leva não ao mundo dos príncipes, dos felizes e despreocupados, mas a um mundo maior e muitíssimo menos povoado: o mundo daqueles que adquiriram entendimento e misericórdia.
 
Amiga ou amigo, NINGUÉM CHEGA À MISERICÓRDIA SE NÃO CONHECER PRIMEIRO O DESESPERO DO BURACO. Não se aprende sabedoria por osmosis, ou lendo livros, ou rezando a algum deus. O Eterno já nos deu a escada.
 
O pior é que a grande maioria das pessoas, se cai no buraco, tenta sair nas asas da alegria plástica de circunstâncias e condições favoráveis, ou tomando vidros e vidros de pílulas. Aceitam qualquer corda que lhe lancem.
 
Bom, essa gente sai, sim. E nunca evolui um só degrau na sua condição de ser humano. Continua tão inútil como sempre foi.
 
Só encontra a escada quem apalpa o escuro com o desespero de quem quer ver o Sol - não para ser jovem outra vez, ou para ser amada/o outra vez, ou para ser rica/o outra vez - mas apenas para ver o Sol.
 
Porque até que o desejo de PARECER e de TER morra no buraco, não há como sair dele em direção ao Sol.
 
Não é por mera coincidência que o nome hebraico para esse Sol é "EU SOU" - o sagrado nome do Eterno.

 
Dalva Agne Lynch
Enviado por Dalva Agne Lynch em 18/01/2011
Alterado em 15/01/2019
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