Dalva Agne Lynch
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Notas iniciais:
 
1. A explicação sobre o que vem a ser Os Cânticos dos Degraus está na primeira parte desses estudos:
http://www.dalvalynch.net/visualizar.php?idt=1856779

2. A ilustração acima é o Painel-Palavra Inicial do Livro dos Salmos, Roschild Miscellany, Norte da Itália, 1450-1470. Essa gravura encontra-se no Museu de Israel, em Jerusalem. Nela vê-se o Rei David, o tradicional autor dos Salmos, tocando sua lira.
 
 
 
OS CÂNTICOS DOS DEGRAUS II:
 
Salmo 121
 
(de David)
 
 
 
Elevo meus olhos aos montes -
de onde há de vir o meu auxílio?
O meu auxílio vem de Hashem
que fez o céu e a terra.
Ele não permitiria que teu pé resvalasse;
o teu Guardião não se descuidaria.
Eis que o Guardião de Israel
não se descuidaria, nem dormiria.
Adonai é teu Guardião:
Adonai é a tua sombra,
 à tua mão direita.
O sol não te molestaria de dia
nem a lua de noite.
Adonai te preservará de todo o mal;
Ele preservará teu ser.
Adonai guardará tua saída
e tua entrada
desde agora e para sempre.
 
 
COMENTÁRIOS:
 
 
1. "Elevo meus olhos para os montes" - Nas Escrituras, o Eterno (Adonai, meu Senhor) sempre habita nos montes - quer dizer, nas alturas. Moisés subiu ao Monte para receber a Lei. Jerusalém foi construída sobre um monte. Ao mesmo tempo, a simbologia do monte como as alturas está por toda a parte na filosofia perene, não apenas nas Escrituras judaicas. Aqui, eles significam as montanhas que circundam Tzion, protegendo-a, como o Altíssimo protege os Seus.
 
 2. "De onde há de vir o meu auxílio?", pergunta David. E responde: "O meu auxílio vem de Hashem". - As Escrituras estão cheias de perguntas assim, perguntas retóricas. Certa vez, um de meus professores se irritou comigo, porque eu continuamente lançava uma pergunta e daí a respondia. Ele pensou que eu estava fazendo ridículo dele. Mas eu não estava. Estava apenas explicando o texto que ele me havia dado.
 
Para o homem ocidental, é difícil entender o pilpul judaico, ou seja, a discussão acalorada de tópicos aparentemente óbvios, com cada pessoa lançando perguntas e respostas ao mesmo tempo, em rápida sucessão e falando ao mesmo tempo.
 
Contudo, é justamente através do pilpul que se chega a conclusões sobre o todo, quando a mente se extravasa em perguntas e respostas sucessivas e rápidas, em uma lógica que parece totalmente perdida à mente ocidental, defendendo ora um lado da questão, ora outro. Como diz a piada, quando um grupo de três judeus discute algo, tem-se seis opiniões diferentes! Contudo, é desta diversidade de idéias que se pode chegar a conclusões mais abrangentes, mais coerentes com o todo. É preciso pensar idéias opostas às suas e tentar defendê-las, para compreender todos os lados de uma questão. 

3. "Eis que o Guardião de Israel não se descuidaria, nem dormiria." - Se você já conhece esse Salmo, perceberá que a tradução consagrada, a da Bíblia cristã, coloca esses verbos no Futuro do Presente: não se descuidará, não dormirá. Contudo, traduzi-os no Futuro do Pretérito: não dormiria, não se descuidaria. E por que fiz isto?

 
Fiz isto porque a tradução consagrada, com os verbos no tempo Futuro do Presente, deixa a perder algumas facetas do sentido deste Salmo.
 
O Futuro do Pretérito enfatiza a famosa "afirmação negativa" do hebraico. Explico: o hebraico "afirma negando". Um bom exemplo é a frase do Novo Testamento que diz: "Faça aos outros o que queres que te façam". No Talmude, contudo, o verso diz: "Não faça aos outros o que não queres que te façam a ti." Essa forma negativa abrange muito mais do que o verso na afirmativa.
 
Veja bem: nesse Salmo, David está dizendo, "É CLARO que Hashem não faria isso". Não existe o elemento fé nesta afirmação. É certeza pura. O verbo no Futuro do Presente requer fé, baseia-se apenas na fé de que o Senhor fará algo. O Futuro do Pretérito, porém, faz você olhar para o passado, para todas as vezes em que Hashem não falhou, e você então pode afirmar com segurança, baseado em fatos: "É claro, Ele agora não falharia tampouco!"
 
 4. "Hashem é a tua sombra, à tua mão direita." - Geralmente pensamos em D´us como sendo luz, jamais sombra. E por que então o Salmista diria "Hashem é tua sombra" ? Ora, para entender isto, é preciso ter em mente o ardor do sol do Oriente Médio, e a importância de uma sombra, seja no meio do deserto, seja nas ruas da cidade. A sombra é o lugar de descanso, de recuperação de forças, para que o caminhante possa seguir em frente em sua jornada.
 
E por que "à tua mão direita"? Porque a mão direita é a mão que faz, que trabalha, que lapida, que escreve, que segura e guia o filho, e é também a mão que segura a espada na batalha. A sombra de D´us regenera as forças da pessoa para que ela não esmoreça.
 
 5. "O sol não te molestaria de dia nem a lua de noite." - A referência à lua como molestadora é facilmente compreensível, quando se apreende a influência que ela tem na natureza. É do conhecimento de todos que até o agricultor mais humilde sabe que uma plantação deve ser feita de acordo com determinada fase da lua, assim como também a poda e a colheita.
 
Ao mesmo tempo, o corpo humano também segue essas fases, e um exemplo disto é a menstruação feminina, que não ocorre no mesmo dia de cada mês do calendário ocidental, e sim no mesmo dia de cada mês lunar - basicamente, a cada 28 dias.
 
Portanto, ainda que a lua não fosse uma deusa para os hebreus antigos, eles claramente reconheciam sua influência sobre a terra e sobre os homens, tão total e completa como a influência do sol. O calendário hebraico inclusive é um calendário lunar, e não solar.
 
6."Hashem te preservará de todo o mal." - Aqui temos o verbo no Futuro do Presente, porque a certeza da proteção já foi estabelecida.
 
 7. "Hashem te guardará..." - Nesse Salmo, Hashem é chamado três vezes de Guardião de Israel. E por que a repetição? A repetição significa importância: este é Seu papel. Ele É o Guardião - sem dúvida alguma.
 
Por toda a Tanach (a Bíblia judaica, composta pelos cinco livros de Moisés, mais os livros dos profetas, os históricos e os literários), quando algo é para ser enfatizado, ele é repetido três vezes. O Novo Testamento cristão inclusive menciona que o Cristo utilizava o mesmo processo de enfatização, quando dizia: "Em verdade, em verdade, em verdade vos digo..." Pena que as traduções fizeram um trabalho tão pobre, cortando o "em verdade" para apenas dois. Afinal, o Cristo era judeu.
 
 8. "Hashem te guardará tua saída e tua entrada" - E o que vem a ser a entrada e a saída? Aqui nesse Salmo, entrada e saída denotam  o início e  a compleição de uma jornada, de um projeto. Contudo, isto também pode ser  interpretado literalmente, e é assim que percebo esse Salmo, ao sair e entrar em casa, quando passo levemente os dedos na Mezuzah, que vem a ser um pequeno pergaminho enrolado e colocado dentro de um tubo, e pregado à direita (de quem entra) da soleira da porta. Passo os dedos pela Mezuzah, e peço ao Eterno que proteja minha saída e meu retorno, e proteja, em minha ausência, a minha casa e meus amados que nela estão.
 
E o que está escrito naquele pergaminho? Duas porções da Torah estão escritas nele: Shemah ("Ouve, ò Israel, o Senhor é teu D´us, o Senhor é um só.(...)" e Vehaya, onde estão as palavras: "E inscreverás estas palavras nos batentes de tua casa, e nos teus portões".
 
 9. "Desde agora e para sempre" - estas palavras se repetem em muitas das orações judaicas, e são, às vezes, traduzida como "para sempre do sempre", "agora e eternamente", etc.
 
 TRANSLITERAÇÃO DO SALMO
 
 Diversas pessoas me perguntam o que significa transliteração. Ora, tradução é passar um TEXTO de uma língua para outra. Transliteração é passar os SONS de um alfabeto como o hebraico, o árabe, o grego, o russo, para o alfabeto ocidental, que é o que a maioria dos países utiliza.
 
 SHIR HAMAALOT LEDAVID
 
Shir hamaalot, essa enai el heharim,
meayin iavo ezri.
Ezri meim HaShem, osse shamayim va'arets.
Al yeten lamot raglêcha,
al ianum shomrêcha.
Hine lo ianum velo yishan shomer Yisrael.
HaShem ishomrêcha,
HaShem  tsilechah al iad ieminêcha.
Iomam hashemesh lo iakêca,
veiarêach balaila.
HaShem yishmorchah micol ra,
yismor et hafshêcha.
HAShem yishmor tsetechah uvoêcha,
me´ata vead olam.
 
 
 
 
 
 
Dalva Agne Lynch
Enviado por Dalva Agne Lynch em 03/03/2011
Alterado em 20/09/2018
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