Dalva Agne Lynch
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Bloqueio
 
© Dalva Agne Lynch

fig: Rio, óleo sobre tela, 1998 © Dalva Agne Lynch
 
 
Como formar pensamentos em um dia cor de cinza?
Até do amarelo se pode inventar poemas e estrofes
porque ele se mistura ao vermelho para criar a manhã.
Mas o cinza sufoca. Vejo minha tela – que é branca – vazia
porque o cinza fora de minha janela me intimida e me tolhe.
Não há cinza em sentimento algum a não ser tristeza
mas nem essa é cinza: é violeta. Cinza é a falta.
A depressão. O buraco enorme deixado por seja lá o quê.
Toma conta do horizonte, das faces das pessoas que passam
e de repente se insinua em meu teclado e me tolhe.
E o capítulo que me falta escrever fica não escrito
o poema que se me nascia fica irresolvido, informe
como essas nuvens cinzas por sobre a silhueta da cidade.
Não há o desespero da chuva, a paixão da tempestade
o irromper do vendaval. Não há nem mesmo a carícia da neblina
ou a sensualidade do dia ensolarado, em explosões de luz
para depois amanhecer cor de lavanda por sobre o mar
colorindo descansadamente as nuvens sobre os montes.
Não, nada. Só o cinza de um progresso absolutamente necessário
mas nem por isso menos desprovido. Menos desolado.
Cinza é a cor das minhas amarras, das minhas ataduras
do que me segura as mãos, do que me tolhe a mente.
E de repente se me rompe a barragem do silêncio
e as palavras jorram no teclado não pela cor cinza
mas em rebeldia contra as cadeias e amarras que me tolhem
levando minha mente a olhar para além delas, para além do cinza
para o meu próprio quadro na parede, ouro e lavanda sobre o mar.
Olho o quadro onde coloquei todas as cores da antemanhã
nascendo por sobre a baía a despeito de um desamor.
Observo com cuidado a palmeira sob a qual sentei
e chorei o incompreensível, o absurdo, o incomensurável
em tons e sons, e com sabor de maresia. Mas são as minhas cores
não as cores do real. Elas pertencem a mim, não às coisas.
As cores verdadeiras, as que cobrem a tela e que me enchem os olhos
são aquelas que empreguei a despeito do cinza do desencanto
o cinza estúpido do abandono, do desprezo, do desamor.
Sento-me outra vez ao teclado e deixo correr palavras
verbos, adjetivos, pronomes, conjunções.
Retomo o capítulo que deixei aberto
e refaço a vida ora em tons pastéis, ora em cor magenta
recolorindo o cinza, desafiando o tempo
e com meus dedos recriando o amor.
Dalva Agne Lynch
Enviado por Dalva Agne Lynch em 18/01/2014
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