Espera
Ah, mas eu não sei como se faz poemas para o momento da espera
o momento do que não existe - que não passa de entre-momento.
É como se descobrir acordando tarde, quase na entrada da noite
e o poente, colorindo o horizonte, levou embora todo brinquedo
e você não viu o Sol. Só resta a expansão enorme das águas
as ondas fazendo ruído como se só o mar fosse suficiente
e a areia e o resto de calor da tarde aquecendo a pele.
Ah, e a pele! O vento soprando, levantando arrepios
fazendo esvoaçar o tênue véu rosado de anseios...
Não, não há como se fazer poemas no poente
para o que não houve, o que não aconteceu,
o que parou apenas um momento antes
da completa possibilidade de ser-se.
A realidade se torna uma ameaça
um desafio inatingível, ausência
algo que nem começou a ser
e que de repente já acabou
bem na entrada da noite.
De repente o dia se foi
invisível, silencioso
desapercebido...
E você segue
esperando
ansioso
pueril
só...
Fig: Espera, DalvaLynch, 2011