fig: Siegfried e Brunhilda, il. de Arthur Rackmam para O Crepúsculo dos Deuses de Wagner)
Ambiguidade
(do livro "Nos Jardins Sagrados", 2004)
Dança de elfos em um caminho silencioso e ensolarado
Na tarde que se estende, preguiçosa. Tua mão na minha, quente
Como um elo inconsciente ao mundo que deixamos para trás
Aquém do sonho. O que me dás, aquilo que abraço, não existe
E o que existe não importa. O que existe não compreende
As lacunas deixadas pelas folhas caindo à nossa volta.
O que existe não tem compartimento grande o suficiente
para conter o silêncio do que nunca foi - e nunca será.
O que existe devolve em eco o impalpável, o sutil
O inconsequente das cantigas que entoas
Na quietude que nos cerca.
Por que razão é preciso que eu te crie
Para além da vida à nossa frente
Porque a realidade, de repente
É tão menor que o sonho?