Rebeldia I
(do livro "Às Portas da Noite", Ed. Blocos, 2001, prêmio de literatura)
Não quero oráculos.
Não quero ver o que está à frente
Nem o que está atrás.
Não quero saber o que jaz
Do outro lado do espelho.
Não quero saber, ponto final.
Não quero ser racional.
Não quero análises sofismáticas
Nem razões psicológicas
Nem normas teológicas.
Quero apenas banhar-me
No momento de agora.
Ele tem sabor de algo esquecido
Algo que deixei na infância
Quando o espelho ainda me contava
Contos de cavaleiros, castelos e damas.
E eu acreditava.
Quero permanecer no momento
No intermezzo, no olho do furacão
No entre aspas.
Ah, pergunto-me, e por que razão
Não se pode cruzar os portais do Infinito
Passado o momento?
Errado estava o Bardo: o importante
Não é o não sabermos que sonhos
Nos trará o sono da morte.
O importante é que o sono da morte
não vem ao terminar o sonho.
E que o sonho termine antes
Muito antes
Que a morte, em misericórdia
Nos separe.