Dalva Agne Lynch
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Amor na melhor idade
Ela estava sentada sozinha na sala de embarque do aeroporto, esperando pelo voo para Nova York. Cabeça erguida, sem olhar à direta ou à esquerda... Ao observar seu rosto altivo, quase desdenhoso, seu meio sorriso, seus óculos de grife e sua roupa impecável, o pensamento que se poderia ter era apenas de, “Quanto orgulho! Ela deve se achar melhor que os outros!”.
Como se diz na gíria, só que não. Ela usava máscaras. No momento, sentindo-se insegura e abandonada, a máscara era de desdém.
Outra mulher sentou-se ao seu lado e puxou conversa. No meio da conversa, a mulher pensou, “Que mulher frívola! Só fala em viagens e compras e roupas e sapatos!”.
Sentaram-se juntas no avião. A conversa se voltou para namoros – afinal, ambas passavam dos cinquenta, eram divorciadas e bem apresentáveis. Outra vez a mulher pensou, “Que desmiolada! Só fala em beleza! Um homem é mais que aparência!”
E por dentro ela mesma pensava, “Preciso esquecer que tudo deu em nada. Que meu querido anjo de cabelos cacheados não passava de um gigolô, que atrai mulheres da minha idade para ser sustentado. Que fui apenas um número dentre tantas outras ovelhas a quem ele tosquiava...”
Sentiu seu rosto enrubescer de vergonha por ter caído naquele golpe tão velho quanto o mundo. “Talvez ele tenha sido diferente comigo...”
Mas lá bem no fundo ela sabia que não era assim. Nos próximos dias, percorreu as lojas de Manhattan, comprando coisas que nem precisava, numa ânsia de sentir-se ainda bonita, ainda desejável, e esquecer aqueles penetrantes olhos escuros aparentemente tão honestos, as palavras doces e macias...
Sentou-se numa Starbucks e, enquanto bebericava um Capuccino, enviou um texto à sua melhor amiga. “Estou miserável. Nem meu novo Saint Lauren ajudou.”
A amiga respondeu prontamente: “Deveria ter usado o que gastou no vestido para comprar o cara. Eu avisei!”
“Não se compra amor”, ela respondeu. “E quem falou em amor? Você não quer o sujeito? Compre-o! Ele não está à venda, por acaso?”
Sim, está, pensou ela. E se orgulha disso. E a amiga não entendia que ela não queria um boneco. Não queria amor comprado. Queria alguém a quem pudesse respeitar, admirar, confiar...
Aquela fora a maior decepção que tivera em mais de uma década. Mais de uma década sozinha, para cair por um gigolô! E ela se considerava tão esperta, tão inteligente!
Quando os amigos a haviam alertado, ela tentara argumentar com ele, fazê-lo negar o que lhe haviam dito, mas ele nem sequer se dera ao trabalho de se justificar. “Você é chata! Só fica me criticando! Que mal tem de se viver um pouco sem cabresto, celas ou arado? Você é muito preconceituosa! Não quero mais saber de você.”
E pronto. Estava tudo terminado.
Ela acendeu um cigarro e ficou olhando para nada. “Provavelmente nunca mais vou amar outra pessoa. Meu tempo está se esgotando...”
Suas mãos nervosas derrubaram a elegante cigarreira parisiense, e um braço masculino se estendeu e a levantou do chão. Ao devolvê-la, seus olhos se encontraram. E ela viu um par de inteligentes olhos azuis, um rosto já não tão jovem, um sorriso meio virado, cabelos grisalhos cuidadosamente penteados...
...
“You dropped this, m´am...”
Ela sorriu de volta. “Thank you…”
Talvez sua vida não estivesse terminada, afinal de contas...
Capítulos de "Amor na melhor idade":
1 - O Início - The Beginning
http://www.dalvalynch.net/visualizar.php?idt=5796098
2 - Transformação - Transformation
http://www.dalvalynch.net/visualizar.php?idt=5828297
3 - A Rival - The Rival
http://www.dalvalynch.net/visualizar.php?idt=5832665
4 - Vergonha - Shame
http://www.dalvalynch.net/visualizar.php?idt=5853797
5 - À Beira da Piscina - By the pool
http://www.dalvalynch.net/visualizar.php?idt=5854619
6 - O Campo de San Nazario - The Camp of San Nazario
http://www.dalvalynch.net/visualizar.php?idt=5885000
7- Amor ou ridículo? - Love or Ridicule?
http://dalvalynch.net/visualizar.php?idt=5888217
8 - Solidão - Loneliness
http://dalvalynch.net/visualizar.php?idt=5892472
9. Amor na era do medo
http://dalvalynch.net/visualizar.php?idt=5896710
10. Despedidas
http://dalvalynch.net/visualizar.php?idt=5911689
11. Desfecho
http://www.dalvalynch.net/visualizar.php?idt=5885000
Ela estava sentada sozinha na sala de embarque do aeroporto, esperando pelo voo para Nova York. Cabeça erguida, sem olhar à direta ou à esquerda... Ao observar seu rosto altivo, quase desdenhoso, seu meio sorriso, seus óculos de grife e sua roupa impecável, o pensamento que se poderia ter era apenas de, “Quanto orgulho! Ela deve se achar melhor que os outros!”.
Como se diz na gíria, só que não. Ela usava máscaras. No momento, sentindo-se insegura e abandonada, a máscara era de desdém.
Outra mulher sentou-se ao seu lado e puxou conversa. No meio da conversa, a mulher pensou, “Que mulher frívola! Só fala em viagens e compras e roupas e sapatos!”.
Sentaram-se juntas no avião. A conversa se voltou para namoros – afinal, ambas passavam dos cinquenta, eram divorciadas e bem apresentáveis. Outra vez a mulher pensou, “Que desmiolada! Só fala em beleza! Um homem é mais que aparência!”
E por dentro ela mesma pensava, “Preciso esquecer que tudo deu em nada. Que meu querido anjo de cabelos cacheados não passava de um gigolô, que atrai mulheres da minha idade para ser sustentado. Que fui apenas um número dentre tantas outras ovelhas a quem ele tosquiava...”
Sentiu seu rosto enrubescer de vergonha por ter caído naquele golpe tão velho quanto o mundo. “Talvez ele tenha sido diferente comigo...”
Mas lá bem no fundo ela sabia que não era assim. Nos próximos dias, percorreu as lojas de Manhattan, comprando coisas que nem precisava, numa ânsia de sentir-se ainda bonita, ainda desejável, e esquecer aqueles penetrantes olhos escuros aparentemente tão honestos, as palavras doces e macias...
Sentou-se numa Starbucks e, enquanto bebericava um Capuccino, enviou um texto à sua melhor amiga. “Estou miserável. Nem meu novo Saint Lauren ajudou.”
A amiga respondeu prontamente: “Deveria ter usado o que gastou no vestido para comprar o cara. Eu avisei!”
“Não se compra amor”, ela respondeu. “E quem falou em amor? Você não quer o sujeito? Compre-o! Ele não está à venda, por acaso?”
Sim, está, pensou ela. E se orgulha disso. E a amiga não entendia que ela não queria um boneco. Não queria amor comprado. Queria alguém a quem pudesse respeitar, admirar, confiar...
Aquela fora a maior decepção que tivera em mais de uma década. Mais de uma década sozinha, para cair por um gigolô! E ela se considerava tão esperta, tão inteligente!
Quando os amigos a haviam alertado, ela tentara argumentar com ele, fazê-lo negar o que lhe haviam dito, mas ele nem sequer se dera ao trabalho de se justificar. “Você é chata! Só fica me criticando! Que mal tem de se viver um pouco sem cabresto, celas ou arado? Você é muito preconceituosa! Não quero mais saber de você.”
E pronto. Estava tudo terminado.
Ela acendeu um cigarro e ficou olhando para nada. “Provavelmente nunca mais vou amar outra pessoa. Meu tempo está se esgotando...”
Suas mãos nervosas derrubaram a elegante cigarreira parisiense, e um braço masculino se estendeu e a levantou do chão. Ao devolvê-la, seus olhos se encontraram. E ela viu um par de inteligentes olhos azuis, um rosto já não tão jovem, um sorriso meio virado, cabelos grisalhos cuidadosamente penteados...
...
“You dropped this, m´am...”
Ela sorriu de volta. “Thank you…”
Talvez sua vida não estivesse terminada, afinal de contas...
Capítulos de "Amor na melhor idade":
1 - O Início - The Beginning
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2 - Transformação - Transformation
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3 - A Rival - The Rival
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4 - Vergonha - Shame
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5 - À Beira da Piscina - By the pool
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6 - O Campo de San Nazario - The Camp of San Nazario
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7- Amor ou ridículo? - Love or Ridicule?
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8 - Solidão - Loneliness
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9. Amor na era do medo
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10. Despedidas
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11. Desfecho
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Dalva Agne Lynch
Enviado por Dalva Agne Lynch em 19/10/2016
Alterado em 14/11/2017
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