Dalva Agne Lynch
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English version after the one in Portuguese

Picture:
me praying at the Kotel´s screen of separation between the men´s and the women´s sections at the lighting of the seventh Chanukkah candle
 
 
 

O que eu trouxe de Israel
 
 
Meu site não é um blog, então me debati bastante sobre se deveria publicar o que escrevi em meu Facebook, ao voltar de Israel. Contudo, algumas reações que recebi, a mais importante sendo de um senhor, casado há 60 anos, me convenceram a compartilhar isto com meus leitores, mesmo se a maioria não é composta por judeus.
 
Aquele senhor chamou minha postagem de “carta aberta aos desencorajados, que não percebem o que você conseguiu absorver em sua mente, seu coração: viver verdadeiramente quem você é!”.
 
Em um momento tão sério para Israel, quando estamos sendo atacados por todos os lados, e, como se não bastasse, sendo atacados também por dentro, com judeus esquerdistas e antissionistas tentando derrubar nosso governo, tudo o que se pode fazer para defender nossos valores, nossa vida e nossa herança patrimonial e espiritual deve ser feito.
 
Meu modo de defender Israel e nossos costumes é a escrita, então... Vamos lá. Como sempre digo e repito, não sou Israelense – não ainda – mas EU SOU ISRAEL. Abaixo segue o texto, um pouco amplificado para a compreensão do público em geral:
 
... “E o que você comprou em Israel?”, perguntaram-me. Comprar? Vamos ver: comprei uma bandeira; uma caneca em hebraico que me chama de "a melhor vovó do mundo"; o pergaminho da minha nova Mezuzah; um lenço de cabeça. E fiz uma doação no Yad VaShem, o Museu do Holocausto, recebendo um pin de presente. E depois trouxe o resto dos shekels de volta para a Itália.
 
Durante meus cinco dias em Jerusalém, passei diaramente pelos suks, os mercados árabes, armênios e judeus, cheios de joias e roupas e mementos - e não consegui me interessar por nada.
 
A única coisa que me interessava era aquele Muro onde há oração e música e dança. Onde me sentei destrinchando com meu parco hebraico as rezar para recitar com as outras mulheres. Onde descobri, para meu espanto, que conseguia entender hebraico, devido às rezas milenares recitadas todos os dias pelas décadas afora.

Lá naquele Muro não havia nem passado nem futuro - só o presente, sólido como as pedras. Uma pessoa muito querida comentou, ao ver minhas fotos: "Acho isso horrível, que as mulheres fiquem segregadas, separadas!".
 
Segregadas? Separadas? Eu me senti segura!  
Não havia ninguém com más intenções me dando cantada, dizendo-me coisas mentirosas que meu coração solitário poderia acreditar. Não havia olhos maliciosos tentando olhar embaixo da minha roupa, ou da roupa das demais mulheres, fazendo-nos sentir desconfortáveis. 

Não me senti feia com minhas saias abaixo do joelho e meus chapéus e lenços e echarpes. Todas elas, as outras mulheres, vestiam-se igual. Exceto as turistas.

A insegurança, o medo e a perplexidade que sentia desde o que me aconteceu em maio, quando um homem de más intenções conseguiu romper minha barreira emocional e física apenas para se divertir às minhas custas, fazendo-me acreditar em suas palavras e cair no seu conto tão velho quanto o mundo, se dissolveram na segurança do Kotel e do Jewish Quarter, o Bairro Judaico.
 
Nem mesmo minhas amigas mais chegadas haviam entendido por que eu ficara tão abalada e incapacitada desde aquela época, mas isso foi porque não entendem o quanto vivo reclusa. O quanto me guardo contra quaisquer relacionamentos desde meu desastrado divórcio, em 2003. O quanto vivo fora do mundo e dos jogos sensuais e sem compromissos da nossa época, protegida pelos meus filhos e pelos mensh (homens de sabedoria) da Comunidade Judaica.

Mas no Jewish Quarter e no Kotel não haveria um só homem que pudesse me desrespeitar, magoar, ferir, mentir.
 
Houve uma instância em que, cansada, sentei-me em uma cadeira no Muslim Quarter, o Bairro Muçulmano. Um rapaz jovem veio gritando, pegou-me pelo braço e me puxou, dizendo que a cadeira pertencia à sua loja. De repente senti toda aquela angústia, medo e insegurança voltando. "Não me toque! Tire as mãos de cima de mim! Não ouse me tocar!"
 
Em questão de segundos, havia diversas pessoas de ambos os sexos xingando o rapaz e me consolando. Muçulmanos e judeus. E voltei a me sentir segura. Meu filho voltou e continuamos a caminhar rumo ao hotel. 

Agora sei que aquele receio de ser outra vez abordada por algum homem de más intenções, e talvez cair em algum outro engodo na minha estúpida inocência, eu havia deixado lá entre as pedras.
 
Também deixei lá a insegurança de ser "diferente". Tive que sorrir quando, alguns dias mais tarde, em Londres, minha filha me presenteou com um chapéu que me trouxera de Paris, e uma mala cheia de lindas roupas. Pensei, "que melhor prova você precisa, de que pode ser tznius (modesta) e ao mesmo tempo elegante?"
 
Não comprometerei mais meus princípios para agradar a quem quer que seja. Não me encolherei mais em temor de ser enganada.

E foi isso tudo o que trouxe de Israel. E duas mechas de cabelos brancos de cada lado do meu rosto, que antes não existiam.
 
  
English version

 
 

What I´ve brought back from Israel
 
 
My site isn´t a blog so I´ve debated about publishing what I´ve written on my Facebook as I came back from Israel. However, what convinced me to publish it was some reactions I´ve received, the most remarkable of which coming from a man who has been married to his wife for 60 years. So I´m sharing this with you, my readers, even if the great majority of you isn´t Jewish.
 
That man called my post “an open letter to discouraged people who don´t realize what you have managed to absorb in your mind, your heart: to truly live what you are.”
 
On these serious moments Israel is going through right now, when we´re been attacked from all sides, and if this wasn´t enough, being attacked also from within, with Leftist and Anti-Zionist Jews trying to overthrow our Government, everything we can do to defend our values, our way of life and our patrimonial and spiritual heritage should be done.
 
My way of defending Israel is writing so... As I always say, I´m not an Israeli – not yet – but I AM ISRAEL. The text that follows was a bit corrected so as to be understood by the public at large:
 
...”So, what did you buy in Israel?” What did I buy? Let´s see: I´ve bought a flag; a mug that says in Hebrew I´m the best grandma in the world; my new Mezuzah Scroll; a head scarf. And I´ve made a contribution to Yad VaShem, the Holocaust Museum in Jerusalem, and received a pin as a gift. And then I took back to Italy the rest of my shekels.
 
On my five days in Jerusalem I daily crossed the Suks, the Arab, Armenian and Jewish Markets, full of jewelry and clothes and mementos – but nothing interested me.
 
The only thing that interested me was that Wall where there´s prayer and music and dance. Where I sat, unraveling the prayer books with my faulty Hebrew in order to recite with the other women. Where I´ve discovered I could understand the language due to the millenary prayers I´ve recited every day throughout the decades.
 
There on that Wall there was no past nor future – only the present, solid as its rocks. Looking at my pictures, a very dear friend of mine commented, “I think that´s horrible, that the women should be segregated, separated!”
 
Segregated? Separated? I felt safe! There´d be no one with bad intentions trying to entice me, telling lies which my lonely heart could believe. There´d be no malicious looks trying to peek under my clothes or the clothes of the other women, making us feel uncomfortable.

I didn´t feel ugly on my skirts below the knee and my hats and scarves and head coverings. All the other women dressed just like me. Except the tourists.

All the insecurity, fear and astonishment I´ve felt since what happened to me in May of 2016, when a man with evil intentions managed to break my emotional and physical barriers just for the fun of it, making me believe in his words and fall for his tale as old as the world, were dissolved in the safety of the Kotel and the Jewish Quarter.
 
Even my closest friends didn´t understand why I got so shaken and emotionally unstructured since that time, but this was because they don´t understand even now how recluse I live. How I always kept myself from any relationships since my disastrous divorce in 2003. How I live away from the world and its sensual uncompromised games, always being protected by my children and by the Jewish Community mensh (men of wisdom).
 
But in the Jewish Quarter and in the Kotel there´d be no man to disrespect me, hurt me, deceive me, telling me lies.
 
There was an instance in which I was very tired as I crossed the Muslim Quarter so I sat on a chair by a store. A young man came running and took hold of my arm, telling me the chair belonged to his business. Suddenly all that fear and distress and unsafety came back to me in full force. “Don´t touch me! Take your hands off me! Don´t you dare to touch me!”
 
In seconds we were surrounded by men and women scolding the young man and comforting me. Muslims and Jews. And I felt safe again. My son came back and we returned to the hotel.
 
Now I know that the fear of being again approached by some man with evil intentions and maybe falling for another seductive tale in my stupid innocence is gone. I´ve left it there, before those millenary rocks.
 
I also left there my insecurity for being “different”. I had to smile when I got to London a few days later and my daughter gave me a hat she bought in Paris for me, and a whole suitcase of beautiful clothes. And I thought, “What better proof do you want that you can be tznius (modest) and at the same time elegant?”.
 
I´ll not compromise my principles to please anyone anymore. I´ll not shrink anymore in fear of being deceived.
 
And that´s all I´ve brought back from Israel. That and two locks of gray hair falling on each side of my face, which weren´t there before.
 

 
Dalva Agne Lynch
Enviado por Dalva Agne Lynch em 16/01/2017
Alterado em 16/01/2017
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