Dalva Agne Lynch
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Recebi a foto que ilustra este texto por e mail, sem a autoria. Ela já me inspirou a escrever muitos textos, e, ainda assim, desconheço o autor.



A luta pela vida

Dalva Agne Lynch


São Paulo tem quase tantos nordestinos quanto o Nordeste. Eles chegam buscando por uma vida melhor, e encontram o frio, a falta de trabalho e a desconfiança do povo.

A maioria é ingênua demais, e começa sendo roubada, depois enganada, depois execrada por ser do Nordeste. Alguns aprendem bem logo as regras do jogo sujo, por necessidade de sobrevivência. Outros lotam os bancos das Igrejas Universais desta vida, certos de que, quanto mais de seu parco salário derem ao luxo das mesmas, mais bênçãos se lhes vão cair do céu. O que lhes cai é a dura realidade do roubo da fé. Outros, bem poucos, retornam ao que pensavam ser uma vida dura, mas que, de repente, parece-lhes o paraíso.

Já encontrei muitos deles mendigando na Rodoviária a passagem de volta, família encolhida sobre sacos e caixas, os filhos dormindo de fome - que é melhor dormir que doer. Já comprei passagem, biscoitos e leite a diversos, para tentar mitigar a minha própria dor - a de consciência, por ser parte da humanidade, ainda que não por minha escolha.

A única coisa que sei é que fomos TODOS criados iguais - somos concebidos por cópula e paridos de mulher, berramos frente a um mundo que nos recebe a tapas, e os sortudos dentre nós são recolhidos ao conforto do seio materno. E é aí - logo depois do grito e dos tapas iniciais - que começamos a ser selecionados por um fado desigual.

E por que? Dizem os espíritas que por carma; dizem os cristãos que por mão divina. Ah, e que mão divina seria esta, que de tão cruel escolhe alguns para o aconchego, e outros para a solidão? Não, não creio nisto. Tampouco em qualquer teoria que não posso comprovar.

O que vejo é que a vida nos é um longo aprendizado, e a alguns ele chega mais cedo. A outros, chega tarde ou nunca chega. E que são poucos, muito poucos dos "sortudos", que podem ter tempo suficiente para buscar um sentido para a vida.

Os Antigos, contudo, que viviam perto da terra, e conheciam as regras da natureza e dos seres que a regem, já entendiam esta luta pela vida. E talvez - apenas talvez! - ao distanciar-se da terra, conglomerando-se em cidades, o homem tenha perdido muito da sabedoria que precisa para saber lutar. Veja abaixo:

Canção do Tamoio

© Antônio Gonçalves Dias

I
Não chores, meu filho;
Não chores, que a vida
É luta renhida:
Viver é lutar.
A vida é combate,
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos
Só pode exaltar.

II
Um dia vivemos!
O homem que é forte
Não teme da morte;
Só teme fugir;
No arco que entesa
Tem certa uma presa,
Quer seja tapuia,
Condor ou tapir.

III
O forte, o cobarde
Seus feitos inveja
De o ver na peleja
Garboso e feroz;
E os tímidos velhos
Nos graves concelhos,
Curvadas as frontes,
Escutam-lhe a voz!

IV
Domina, se vive;
Se morre, descansa
Dos seus na lembrança,
Na voz do porvir.
Não cures da vida!
Sê bravo, sê forte!
Não fujas da morte,
Que a morte há de vir!

V
E pois que és meu filho,
Meus brios reveste;
Tamoio nasceste,
Valente serás.
Sê duro guerreiro,
Robusto, fragueiro,
Brasão dos tamoios
Na guerra e na paz.

VI
Teu grito de guerra
Retumbe aos ouvidos
D'imigos transidos
Por vil comoção;
E tremam d'ouvi-lo
Pior que o sibilo
Das setas ligeiras,
Pior que o trovão.

VII
E a mãe nessas tabas,
Querendo calados
Os filhos criados
Na lei do terror;
Teu nome lhes diga,
Que a gente inimiga
Talvez não escute
Sem pranto, sem dor!

VIII
Porém se a fortuna,
Traindo teus passos,
Te arroja nos laços
Do inimigo falaz!
Na última hora
Teus feitos memora,
Tranqüilo nos gestos,
Impávido, audaz.

IX
E cai como o tronco
Do raio tocado,
Partido, rojado
Por larga extensão;
Assim morre o forte!
No passo da morte
Triunfa, conquista
Mais alto brasão.

X
As armas ensaia,
Penetra na vida:
Pesada ou querida,
Viver é lutar.
Se o duro combate
Os fracos abate,
Aos fortes, aos bravos,
Só pode exaltar.


Dalva Agne Lynch
Enviado por Dalva Agne Lynch em 10/08/2007
Alterado em 31/12/2010
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