Ativistas e Artistas hoje e sempre
Estava observando as postagens de um certo grupo de jovens ativistas no Facebook, ouvindo suas ideias e vendo suas atuações e pensei... Quando essa garotada tiver o dobro da idade que tem agora, ou mesmo só uns dez anos a mais, eles vão olhar para trás, para esses dias de liberdade e arte e sexo e outras coisas, e comparar com aquilo em que se tornaram.
A coisa é que apenas um por cento deles se tornará um artista capaz de viver de sua arte. O resto de repente vai se descobrir na obrigação de largar tudo o que está fazendo agora – ativismo, teatro, dança, música – a fim de ganhar a vida. Talvez uns dez por cento conseguirá somar os dois – ganha-pão e movimentos ativistas (quer dizer, vão ser políticos), ou ganha-pão e alguma arte. O resto, quer dizer, noventa por cento deles, logo se verá com barriga de cerveja, três ou quatro filhos pra criar, e um trabalho que odeiam mas sem o qual os seus dependentes passariam necessidades.
Vejam bem – eu sou escritora e poeta, e participei de movimentos como desses aí, lá pelos anos 60-70. Então a vida aconteceu, o tempo passou – e de repente descobri que os últimos anos haviam sido um hiato, um intervalo, e que a minha essência de artista, que estivera dormente por dez anos, nunca se esvaíra. E então agora olho à minha volta.
Onde estão meus companheiros de ativismo, de teatro e dança e sei lá mais o quê? Ah, mas eu pesquisei. Todos, exceto uns dez por cento, são hoje pacatos cidadãos. Os demais – os dez por cento – se dividem entre os que chegaram ao sucesso artístico ou político, os que combinaram trabalho e família com arte, e os que... morreram. Alguns morreram em acidentes, alguns de doenças diversas, alguns de Aids – e alguns, não poucos, se suicidaram.
Quer dizer, nós, ativistas e artistas, não mudamos o mundo naquela época – e nem essa garotada vai mudá-lo agora. E por que digo isso? Porque o mundo não muda com movimentos juvenis fazendo barulho. Mudança que começa com barulho, cai com barulho. Mudança que se faz à força, cai com força.
Você quer saber quem na verdade muda o mundo? Quem muda o mundo são os solitários e silenciosos garotos trabalhando na frente de um computador, olhando a realidade pelas lentes de um poderoso microscópio, descobrindo novas fronteiras de cura, de melhoramentos na alimentação, na comunicação. E aqueles do um por cento de que falei lá em cima também – aqueles que, com sua genialidade, conseguiram se tornar músicos, escritores, atores, desenhistas gráficos e toda outra espécie de artista, e assim prover aos modificadores de mundo um descanso de seus trabalhos.
Essa garotada que se dedica a mudar o mundo, queridos e queridas, não tem TEMPO para manifestações, e para representar ou dançar a vida. Eles criam a vida, silenciosamente, dedicando até vinte horas por dia.
Pense! Você acha que as equipes que inventaram o celular e a internet tinham tempo para ficar por aí fazendo manifestações de rua a fim de aumentar as comunicações, para que houvesse mais alcance à verdade dos acontecimentos? Não. Eles se sentaram e criaram a internet e o celular.
Pois é.