A música jovem de hoje
Dalva Agne Lynch
Quando adolescente, ou mesmo como jovem adulta, eu raramente encontrava outras pessoas da minha idade que tivessem, como eu, a dolorida sensação de não se enquadrar nos padrões estabelecidos, de não pertencer a lugar algum.
Hoje percebo que o quadro é o mesmo, quer dizer, raramente encontro pessoas da minha idade que sintam o mesmo que eu.
Contudo, algo mudou. Uma enorme quantidade de adolescentes e jovens adultos de hoje parecem compartilhar essa mesma dolorida sensação de ser parafuso quadrado em buraco redondo, ou vice-versa, que eu sempre tive - a angústia de não pertencer a lugar algum. E de repente vejo que não sou mais "avis rara". Só que os que habitam essa região obscura em que vivo têm, em sua absoluta maioria, menos da metade da minha idade. Mas são eles que, como na alegoria de Platão, vêem a realidade não como sombras refletidas na parede da caverna onde se esconde o resto da humanidade, mas sim na dolorosa claridade do real.
Isto transparece na arte que fazem, que tocam, que escutam, e que, para os adultos - os da minha idade - não passa de pura barulheira e confusão. Mas não é. A arte e a música dos jovens de hoje é seu grito por algo que faça sentido, por algum lugar onde se sintam em casa. Geralmente seus pais não os compreendem, e pensam que são irresponsáveis, desocupados, vadios. A maioria tem família separada, e se sente "de fora" tanto na casa do pai e sua nova mulher, que possuem seus próprios filhos, quanto na casa da mãe e seu novo marido, com os filhos deles. Em qualquer dos dois lugares, ele é sempre o de fora - o "meio-irmão", o estranho, o que "não pertence".
Na escola, as regras são feitas para quem vive em outra esfera, e eles se sentem tolhidos; na sociedade, segregação, criticismo e egoísmo faz com que se sintam impotentes, sozinhos, alienados. E, pior de tudo, tanto os que deveriam ser sua família quanto seus professores, dizem-lhes que é culpa deles mesmos se sentirem assim.
Então eles extravasam no som, nas cores e nas formas, o seu grito em busca de alívio à dor do ser-se aparte, e de sentir o peso inútil da culpa por sentir o que sentem. E tudo isto, sem que se apercebam, é o verdadeiro sentido da Arte - a verdadeira criação, saída do mais profundo vácuo do espírito que busca.
Abaixo, estou traduzindo a letra da música "Somewhere I belong", da banda Linkin Park. E ela é só uma dentre milhares de outras do mesmo estofo.
Aí vai, para meus jovens companheiros de busca, entre os quais encontro pelo menos um pouco de semelhança:
EU PERTENÇO EM ALGUM LUGAR
(música de Linkin Park, no CD Meteora)
Trad. Dalva Agne Lynch
Quando tudo aconteceu
eu não tinha nada pra dizer
estava confuso
e deixei tudo transparecer
só pra descobrir que no fim
não sou o único
que dentro de mim
tem na mente este tipo de coisa
mas todo o vazio
que as palavras revelaram
é a única coisa real
que me restou afinal
para sentir
não há nada a perder
só permanecer
oco e sozinho
e é minha própria culpa
minha própria culpa.
Eu quero sarar
quero sentir afinal
o que pensei jamais ser real
quero largar a dor que por tanto tempo
estou a carregar
(apagar a dor até ela acabar)
(até ela acabar).
Eu quero sarar
quero sentir afinal
o que pensei jamais ser real
quero encontrar
o que sempre sempre quis
que eu pertenço em algum lugar.
E não tenho nada pra falar
não posso acreditar
que não caí de cara no chão
estava em confusão
buscando por todo lugar
só pra descobrir que o que busquei
não era tudo
o que em minha mente imaginei
então o que eu sou
o que eu tenho
além de negatividade
porque não posso justificar
a maneira como todo mundo
está a me olhar
nada a perder
nada a ganhar
oco e sozinho
e é minha própria culpa
minha própria culpa.
Nunca vou me conhecer
até isto fazer
por mim mesmo
e nunca vou sentir
até minha ferida estar curada
nunca vou ser nada
até que me liberte
de mim mesmo
e eu vou me libertar
hoje eu vou
me encontrar.
Eu quero sarar
quero sentir
que finalmente eu pertenço
em algum lugar.
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fig: "Prostituta" - desconheço o autor. Se vc souber, por favor me diga.
Dalva Agne Lynch
Enviado por Dalva Agne Lynch em 27/09/2007
Alterado em 04/11/2012