Pois é...
© Dalva Agne Lynch
A Verdade. Assim, com V maiúsculo
E todo o assombro de seu mistério.
O caminho foi árduo, Dona Verdade
E o que perdi em teu nome
E que me parecia ínfimo
Agora me assombra. E dirias:
“É o preço da aquisição.”
Pois então, Dona Verdade – assim
Com o V maiúsculo dos teus mistérios
Eu te respondo:
Não há ínfimo na vida. Não é necessário o estudo
Da cosmologia, gematria, filosofia
E a constituição de átomos e células
Para se maravilhar com as estrelas
Com as florestas e os animais e as flores.
É divertido, interessante, entusiasmante
Mas não se chega ao entendimento da rosa
A apreciação de sua formosura
Conhecendo sua constituição.
E nos apaixonamos por um olhar
Uma curva, um gesto. E essa paixão
Não aumenta com o conhecimento maior
Dos órgãos internos do ser amado
As veias e o estômago e os rins.
E o que se beija não é uma caveira
Nem tampouco a gematria do seu ser.
Beija-se a maciez e o perfume da boca.
Então, Dona Verdade, tudo o que aprendi
Seguindo-te extasiada, foi que a sabedoria
Não estava nos teus caminhos intrincados.
Eles eram a reflexão maior, o conhecimento.
Mas conhecimento, Dona Verdade, não é sabedoria.
Então agora sento-me ao sol com meu cachorrinho
Observando as crianças a brincar, a brisa nos cabelos
O som alto de seu riso e suas palavras desconexas.
E isso, Dona Verdade, resume todo o conteúdo
Daqueles teus pesados volumes pegando poeira
Nas estantes da minha biblioteca.