Escrevi o texto abaixo para ajudar meus jovens amigos poetas. Espero que seja uma ajuda também para você:
ERROS MAIS COMUNS EM POESIA
Dalva Agne Lynch
1 - Misturar o "tu" e o "você" em um mesmo poema: eu te amo/você me inspira. É preciso escolher de antemão se vc vai se dirigir à sua musa (seu muso - rs) como tu, ou como você. Participei certa vez de um concurso, no qual a pessoa que tirou o primeiro lugar dizia, em seu poema:
Já não sei o que é mais triste que viver longe de ti,
E nada se compara a estar distante de você,
Não sei mais sorrir e de cantar já me esqueci,
Nem minha memória pode mais te esquecer.
(ele mistura o tu com o você, e dizer que sua memória não pode esquecer é, no mínimo, estranho)
Bom - não vou colocar aqui o poema inteiro, mas vale dizer que ele rima amor com dor na segunda estrofe, distante com antes (isso se chama rima falsa) na terceira estrofe, e, na última estrofe, esquece inteiramente seu padrão de rimas. Ver isto ganhar o primeiro lugar foi impressionante. Quando conversei com os jurados a respeito, eles me afirmaram QUE NEM HAVIAM SE DADO CONTA... Vale dizer que esse foi o primeiro e último concurso de poesias daquele grupo - pelo menos pelo que eu saiba.
2 - Vírgula entre o verbo e o predicado, e principalmente entre o sujeito e o verbo: porque eu, te amo - onde, você está?
3 - Colocar o verbo ao fim da frase. Isto não faz com que o verso seja "poético"; apenas empobrece o texto: quero com você ficar/para sempre te abraçar (note-se que coloquei aqui também a mistura do eu/você)
4 - Rimas pobres: fazer um poema inteiro com rimas verbais (com verbos, em qualquer tempo); com ão, ado, ente; rimar amor com dor, etc. Nota: uma rima assim, aqui e acolá, tudo bem, mas no poema inteiro - jamais. Claro que há casos em que isto é inteiramente proposital, ou há quem (como eu!) se utilize muito de advérbios. Veja um exemplo de um mau poema, com rimas paupérrimas:
preciso te esquecer
e continuar a viver
sem sentir essa dor
de não ter teu amor
sem tua paixão
me dói o coração
5 - Rimas falsas: singular com plural (distante/antes, agora/horas)
Licença poética é uma coisa. Erro é outro. Há poetas que não se utilizam de pontuação alguma. Outros constróem suas frases poéticas misturando os elementos da sentença, ou mesmo de diversas sentenças. Isto vem a ser estilo e escrita, licença poética. A coisa é que, para se utilizar de licença poética, ou seja, romper com as regras gramaticais, sintáticas e linguísticas, É PRECISO PRIMEIRO CONHECER ESSAS REGRAS.
NOTA ADICIONAL: erro faz parte - da vida e da arte! Mas que seja ocasional, jamais por falta de estudos. Quem se chama escritor tem obrigação de conhecer a matéria com a qual faz sua arte - a palavra. Um músico precisa conhecer o seu material - a música; um arquiteto precisa saber todas as configurações matemáticas de sua arte, ou seu edifício não ficará em pé.
Arte não é de modo algum apenas sentar e escrever. Isto todos fazem. O que separa o escritor da pessoa comum é que ele é artesão das letras.
Certa vez coloquei, no poema cujas citações estão na página de entrada aqui do meu site, a palavra desritmia escrita errada. Ora, no momento em que lancei o texto na net, alguém fez uma belíssima montagem - e o erro, assim, se perpetuou em sites e blogs através dos anos. Apontaram-me a falha, corrigi - mas do que adianta? Lá está meu texto, para sempre escrito errado...